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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Moradores de rua de Santa Isabel se dizem discriminados, pedem uma chance e emprego


 Apesar do dia ensolarado numa manhã fria de junho oito mendigos se encontravam debaixo de uma marquise na Praça da Bandeira em Santa Isabel. Três se encontravam dormindo em cima de papelões tendo o corpo escondido por cobertores sujos. Todos aparentavam ter mais de 40 anos. O cheiro de cachaça emanava dos corpos sofridos. O mais velho, com sinais de embriagues, disse se chamar Antonio Edson Facioli e declarou ter 65 anos. Ele informou que nasceu em Minas Gerais e que está na rua há trinta dias. Antonio Facioli declarou não ter aposentadoria e que não trabalha por não conseguir emprego. 

  Outro morador de rua, Paulo Donizete Peres, 41 anos, informou que morava em Guarulhos com a esposa e seis filhos, mas não se dava bem com os parentes de sua mulher. Resolveu sair de casa e morar sozinho e acabou vindo parar em Santa Isabel. Sem emprego, sem dinheiro e sem lugar para morar ficou na rua. Ele disse que não retorna mais para o convívio da família, pois “se voltar é briga na certa”. “Só por Deus”, foi a resposta do Paulo Donizete quando questionado como fazia para suportar o frio intenso dos últimos dias, principalmente nas madrugadas. Ele afirmou que tem profissão, é pedreiro, mas não tem ferramentas para trabalhar. 

  Paulo disse que os moradores de rua sofrem discriminação e que as pessoas não dão emprego para quem não tem residência fixa. Por fim, falou que em Santa Isabel não tem albergue e que a prefeitura (Assistência Social) de vez em quando leva os moradores de rua para dormir no albergue de Jacareí (município distante 31 quilômetros de Santa Isabel), mas que no outro dia ninguém vai buscar. Ademilson Fonseca, 37 anos, se encontra na mesma situação dos outros moradores de rua. Ele informou que é solteiro e não tem filhos, há anos mora na rua, mas tem pouco tempo em Santa Isabel. Informou que trabalhava como técnico em comunicação visual –– confeccionava banners, luminosos, faixas, letreiros. Ele disse ainda que exerceu a profissão de vendedor e faz  serviços de pintor. Mas é cético com relação ao mercado de trabalho. “Sem residência fixa ninguém emprega a gente”. Bem articulado, ele disse que apesar de não ter uma casa, se considera um cidadão. Questionado se consumia droga ou se era alcoólatra, negou, mas acabou caindo em contradição quando confessou que pra agüentar o frio e a situação em que se encontra também bebe umas pinguinhas. 

  Ademilson contou que o morador de rua passa frio, fome e não tem como fazer a higiene corporal. Falou ainda que para se alimentar, eles contam com a ajuda da população. Outros moradores de rua que a reportagem conversou: José Heleno Balbino, 45 anos. Ele disse que é pai de uma menina de nove anos e que morava com a cunhada em Santa Isabel. Messias da Conceição, 39 anos. Ele contou que nasceu em Arujá e que sua profissão é chacareiro, tomava conta de animais numa fazenda.

Maioria dos moradores de rua são andarilhos


Mendigos pedem ajuda para suprirem necessidades
  A reportagem do jornal Gazeta de Notícias esteve dois dias na Praça da Bandeira conversando com os moradores de rua. Eles pedem ajuda, dinheiro, comida, roupa e emprego. A primeira surpresa é que o número de mendigos é maior do que se supunha. A segunda surpresa é que boa parte deles não são de Santa Isabel, ou seja, são os chamados andarilhos que se notabilizam por percorrerem a pé longas distâncias pelas estradas. 


 Eles permanecem um período numa determinada cidade depois pegam a estrada e vão para outro município.    Na verdade não se sabe se as informações passadas pelos moradores de rua são fidedignas muito menos se os nomes declarados são verdadeiros. Pelo menos um deles que não é de Santa Isabel disse que não retorna para sua cidade por estar jurado de morte. Alguns não têm mais documentos pessoais. A maioria disse que saiu de casa por incompatibilidade com a família, dizem-se trabalhadores e pedem uma chance à sociedade.


  Uns conseguem manter certa dignidade na fisionomia, outros não conseguem sustentar um diálogo mínimo de forma coerente. Alguns dizem que sofrem preconceito, outros afirmaram que a prefeitura ajuda pouco e que distribuiu alguns cobertores. Com relação à alimentação, contam com a ajuda de pessoas caridosas, mas que às vezes passam dias sem comer. Para dormir só tomando um “corotinho”, aguardente acondicionada numa pequena garrafa plástica.


 Questionados se em Santa Isabel sofrem pressões ou ameaças, eles disseram que não, entretanto se sentem desconfortáveis e receosos por dormirem na rua, tendo em vista os casos de violência perpetrados contra mendigos na madrugada. Deu para perceber que os mendigos que foram ouvidos na Praça da Bandeira não gostam de falar do passado, não dão muito detalhes da vida particular, principalmente o motivo que os levou a se tornarem moradores de rua, levando-se em consideração que todos tinham casa e família.       

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