|
Igreja Nossa Senhora de Aparecida - onde Padre Gabriel é o pároco |
Uma grande polêmica tomou conta de Santa Isabel. A pergunta que todo mundo faz é a seguinte: religião e política podem se misturar? Religião e política se discute? Padre e Pastor podem fazer política na missa e no culto? Padre e pastor podem ser candidatos a prefeito e vice-prefeito? Durante três dias da semana passada, dois repórteres do jornal Gazeta de Notícias estiveram nas ruas e nos cultos evangélicos para fazer essas e outras perguntas aos fiéis da Igreja Católica e aos fiéis das Igrejas Evangélicas de Santa Isabel.
|
Igreja O Brasil para Cristo - do Pastor David Lucena |
A polêmica gira em torno do Padre Gabriel Gonzaga Bina, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida (Aparecidinha). Padre Gabriel se apresenta como pré-candidato a prefeito por Santa Isabel e teria como vice na sua chapa o Pastor David Lucena da Igreja Pentecostal O Brasil Para Cristo. Segundo informações apuradas pelo jornal, Padre Gabriel estaria conversando com vários pastores no sentido de unir as Igrejas evangélicas de Santa Isabel com a Igreja Católica para apoiar seu nome a prefeito.
|
Padre Gabriel Gonzaga Bina celebra missa na Igreja Nossa
Senhora Aparecida (Aparecidinha) |
Maioria dos católicos é contra mistura de política e religião
O resultado das entrevistas realizadas pelo jornal Gazeta de Notícias não são nada animadoras nem para o candidato a prefeito nem para o suposto vice evangélico na chapa do Padre Gabriel. A reportagem esteve no domingo (dia 28 de agosto) na missa da Igreja Matriz de Santa Isabel. A maioria dos fiéis ouvidos pela reportagem se diz contra o Padre ser candidato a prefeito, e os que apóiam a candidatura do Padre reprovam a união com os evangélicos.
A dona de casa Fabiana de Souza, 32 anos, moradora do Eldorado, disse que padre não deveria fazer política. “Eu não aprovo padre ser candidato a prefeito, muito menos se unir com evangélicos, lugar de padre é na Igreja”. Morador do bairro Pedreira, César José de Moraes, 30 anos, também é contra a candidatura do padre. “Sou contra misturar política com religião”. Edna Fátima, moradora da Avenida Brasil, que afirmou não perder a missa de domingo, disse se tratar (a candidatura do Padre Gabriel) de aventura. “O Padre tem que cuidar das coisas de Deus, da Igreja e dos católicos”. E arrematou: “A Igreja não deveria se envolver com política”. O pedreiro Luis Américo de Souza Nonato, 55 anos, morador do bairro Eldorado declarou que a política é suja e que o padre Gabriel deveria cuidar só da igreja. “Eu acho que nem padre nem Pastor deveriam ser candidatos”, disse Maria Conceição dos Anjos, 22 anos, moradora do centro.
Outra católica que não perde uma missa, Idalina Rodrigues Vieira, 56 anos, é radicalmente contra a mistura de política e religião. “Depois que o padre é formado, ele jura ser sacerdote até o fim de sua vida, acho errado entrar na política, ele jamais terá meu voto”. Opinião diferente tem a dona de casa Luiza Pinheiro de Oliveira, 79 anos, moradora do Monte Serrat. “O Padre é um homem igual aos outros, ele pode ser candidato e pode também ter o apoio dos evangélicos, se ele for candidato a prefeito voto nele”, disse a idosa. O motorista de caminhão, Jorge Aparecido Silva, 44 anos, relatou à reportagem que o padre pode ser candidato, mas ressaltou que a união com evangélicos e católicos é difícil de acontecer.
Evangélicos acham que serão usados para eleger o padre
Na terça e quinta-feira da semana passada, dias 30 de agosto e 1º de setembro a reportagem visitou à noite a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Pentecostal O Brasil Para Cristo, a Igreja Mundial do Poder de Deus e a Igreja Assembléia de Deus. Diferentemente dos católicos, os fiéis das Igrejas Evangélicas são discretos e reservados e não gostam de dar entrevistas. A maioria dos fiéis que concordaram em conversar com o jornal optaram por não se identificar, exceto a diarista Josefa de Almeida, 36 anos, moradora do bairro Eldorado e o aposentado Jeremias de Souza, 65 anos. “Parece que o Padre que usar os evangélicos para se eleger, se depender de mim, jamais ele será eleito”, disse a diarista. O aposentado Jeremias informou que costuma freqüentar várias Igrejas evangélicas e foi lacônico na resposta. “Não sigo orientação de pastor, voto em quem eu quero”. Uma senhora evangélica que não quis se identificar e reside próximo da Igreja Aparecidinha, falou que o Padre é ligado à macumba. “Cruz credo, jamais votaria nesse homem”, ela disse.
A maioria dos entrevistados nos cultos relatou que são contra a candidatura do padre, eles acham que seriam usados para eleger o padre o que enfraqueceria as Igrejas evangélicas em Santa Isabel. Também existem dentro do seio evangélico restrições ao nome do Pastor David Lucena. A maioria dos evangélicos se posicionou contra misturar política e religião e não admitem a hipótese de apoiar ou votar em um padre da igreja católica.
Aliança entre católicos e evangélicos está sendo feita de cima para baixo
Os depoimentos colhidos pelo jornal Gazeta de Notícias, entre católicos e evangélicos de Santa Isabel dizem muito mais sobre meras opiniões pessoais referente à religião e política. Mostra que a tentativa de aliança entre a igreja católica e as igrejas evangélicas em Santa Isabel, comandada pelo Padre Gabriel e um Pastor evangélico se dá de cima para baixo, de forma antidemocrática, sem consulta a quem de fato interessa, ou seja, os fiéis religiosos. Grande parte dos entrevistados, católicos ou evangélicos não sabe da articulação do Padre Gabriel da Igreja Nossa Senhora Aparecida e do Pastor David Lucena da Igreja Pentecostal O Brasil Para Cristo.
|
Púlpito da Igreja 'O Brasil para Cristo' |
Os fiéis não foram consultados para poderem emitir sua opinião sobre essa suposta aliança entre as igrejas para as eleições municipais do ano que vem. Sim, a aliança envolve questões éticas, questões morais e a fé do povo. E como destaca a reportagem a maioria das pessoas não aceita que se use a religião, ou seja, a fé do povo para trampolim político. Parece que a coisa já não começou bem, pois já há resistência por parte de católicos e crentes que não aceitam o uso da religião para fins políticos.
Todo cidadão tem o direito de votar e ser votado, mas não tem o direito de manipular as pessoas através da religião, afinal de contas, Padre e Pastor são formadores de opinião. Morador antigo de Santa Isabel, um católico fervoroso da Igreja Católica resumiu bem esse imbróglio: “A religião não pode entrar no espaço da política e a política não pode reduzir a liberdade religiosa da sociedade que a vive. Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, a política tem a sua autonomia e não deve invadir os direitos de Deus. Sou contra misturar política e religião”, disse o religioso que não quis se identificar.
Padre Gabriel teria que se afastar da igreja se fosse eleito
O Padre Gabriel Gonzaga Bina, pároco da Igreja Nossa Senhora Aparecida, recebeu a reportagem do GAZETA DE NOTÍCIAS e gentilmente nos concedeu entrevista. O padre que tem 46 anos de idade disse que foi criado em Itaquaquecetuba e quando ordenado ficou por alguns anos em Mogi das Cruzes e veio para Santa Isabel há 14 anos atrás. Diz conhecer bem a pobreza e a necessidade da população e a sua consciência cobra para que se faça mais por Santa Isabel. O povo brasileiro é muito pacato, mas tudo tem um limite e esse é o seu medo. Por isso devemos mudar através do voto esse panorama que vemos e que não está nada bom.
“Temos feito um excelente trabalho social na comunidade e muitas famílias me perguntam por que não beneficiar toda a cidade. Não é tão simples assim, por isso mesmo pensou-se numa provável candidatura à Prefeitura do município. Repito, é só uma idéia que vai depender de muitos fatores. Eu sou padre e dependo de uma autorização superior. Eu e muitos de nós estamos em uma situação privilegiada, mas está na Bíblia que se estamos bem, devemos deixar nossos irmãos na mesma condição. Embora às vezes a vontade seja ficar bem quietinho no meu canto, é uma questão de justiça”, disse Padre Gabriel.
Quanto ao provável apoio dos evangélicos não vê isso como um problema, pois os católicos e os evangélicos também são cidadãos. “É este lado que estamos fazendo se manifestar, o lado cidadão do religioso. Eu, uma vez num cargo público, sou obrigado a me licenciar e serei o cidadão Gabriel que fará um trabalho sério junto com um Pastor, também cidadão, para o bem da coletividade. Não haverá doutrina e sim projetos, nesse momento a religião é só a base moral de cada um, não decidirá nada”, finalizou o Padre Gabriel.
David Lucena está consultando o Conselho de Pastores
O Pastor David Lucena gentilmente respondeu por e-mail a alguns questionamentos, mas colocou-se à disposição do Jornal Gazeta de Notícias para uma entrevista.
O Pastor David Lucena, da Igreja Pentecostal O Brasil Para Cristo, disse que existe uma possibilidade muito real de se fazer uma composição com o Padre Gabriel Gonzaga Bina, da Igreja Nossa Senhora Aparecida, para concorrer à prefeitura de Santa Isabel e que seria uma boa opção para a cidade. “O que está havendo, é uma manifestação positiva dos pastores do Conselho em apoiar uma possível candidatura nesta provável chapa e estamos ouvindo os pastores de outras denominações, que também tem manifestado agrado ao projeto. Mas a maior manifestação tem vindo de famílias que pertencem às igrejas”, escreveu o Pastor David.
Ao ser questionado se o Padre Gabriel, numa eventual candidatura, teria o apoio do atual prefeito Hélio Buscarioli, o Pastor disse que isto seria impossível, pois a provável chapa não seria continuidade desta administração. “Tudo tem que ser conduzido com muita responsabilidade e atenção e caso seja confirmada a pré-candidatura, estaremos esclarecendo aos fiéis que nesse momento a política deve ser dissociada da religião para o bem do município”, finalizou.
Pastor da Igreja Unida Maranata é contra aliança entre católicos e evangélicos
|
Pastor José Cláudio da Silva da Igreja
Unida Maranata |
O Pastor da Igreja Unida Maranata de Santa Isabel, José Claudio da Silva, 54 anos, recebeu a reportagem do jornal Gazeta de Notícias para falar sobre a suposta união de evangélicos e católicos na eleição municipal do ano que vem. A polêmica instalada na cidade diz respeito sobre a pré-candidatura a prefeito do Padre Gabriel Gonzaga Bina da Igreja Nossa Senhora Aparecida (Aparecidinha). Padre Gabriel estaria tentando fazer uma aliança entre a Igreja Católica e as Igrejas evangélicas para apoiar seu nome a prefeito.
O vice na chapa do Padre seria o pastor David Lucena da Igreja Pentecostal O Brasil Para Cristo. O Pastor José Claudio se manifestou dizendo que é contrário a essa suposta união entre a igreja católica e as evangélicas. Entretanto, salientou que conhece o padre Gabriel e o Pastor David Lucena e que são seus amigos. “Não posso me meter na opinião dos outros, se o Padre Gabriel e o pastor David Lucena querem sair candidatos e unir as igrejas é uma decisão deles que eu respeito”. Em alusão aos fiéis de sua igreja, Pastor José Claudio, que há 16 anos está à frente da Igreja Unida Maranata, disse que a responsabilidade dele é cuidar do seu povo. “Deus me deu esse desígnio e essa responsabilidade, ou seja, cuidar de meu povo”.